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Há momentos em que a literatura não é suficiente, devemos admitir. Momentos em que as palavras, por mais belas que sejam, não são suficientes para expressar a plenitude de um sentimento que nos abraça ou nos oprime o peito. Há momentos em que a nossa dor, a nossa alegria, a nossa saudade, são feitas de imagens.
Ler sobre o novo documentário de João Moreira Salles, No intenso agora, suscitou esta ideia, que gerou esse texto. Mas principalmente, a pergunta que realmente me tocou, foi como continuar a viver após experimentar a felicidade? Como simplesmente olhar para frente e seguir depois de presenciar o mundo mudando e a história acontecendo bem à sua frente?
Lembrei de O demônio do meio-dia, de Andrew Solomon, livro indispensável para quem pretende entender um pouco que seja sobre a depressão, e um dos trechos que me marcou foi justamente aquele em que descobri que é possível experimentar o vazio da depressão não apenas na tristeza mas também de saudade de uma grande felicidade.
E agora esse No intenso agora, com o trailer lindo que deixo no final desse post com vocês, para mostrar a felicidade de viver e a dor de seguir vivendo depois. Eu não vi as transformações na China, não vi os protestos de Paris, não vi a Primavera de Praga, não lutei contra a ditadura. Mas tudo isso está em mim, está em todos nós, no fluxo de ações e reações que resultaram nesses dias sombrios que vivemos. E esse sentimento de dor e vazio, esse luto pelo que tive e vivi e nunca mais terei, o intenso agora perdido, esse sentimento eu posso dizer que conheço bem.
“Eles filmaram por impulso. Era a história acontecendo e eles eram a parte fraca.”
Nós, que assistimos e registramos a vida passar diante de nós, somos a parte fraca.
Mas ainda temos a literatura, o cinema e belos livros e filmes para nos consolar e nos ajudar a seguir em frente.