A rua era uma linha reta. Dois segmentos, seguindo toda a vida sem se tocarem, olhos nos olhos por um tempo infinito.
E ele olhou e do outro lado tudo o que viu foi a luz que partia da janela e formava uma perfeita inclinação com aquela margem. catetos, hipotenusa, um perfeito ângulo reto.
Toda essa perfeita geometria paralisava, ele simplesmente tinha medo de voltar e romper esse equilíbrio, tão belo, tão precário.
Balançou a cabeça e afastou os pensamentos, o plano tornou-se espaço, a rua curvou-se deitou a cabeça sobre o ombro, pareceu mais com alguém do que com algo, ele sentiu o coração serenar, a alma desacelerou os batimentos, era apenas dar o primeiro passo.
Pé ante pé, depois de pé e, afinal, como se flutuasse, rompendo as linhas e traçando medianas que unem as retas ao mesmo tempo que se desfazem os ângulos que o separava do que um dia nem mais se lembrava como havia deixado.
O quadrilátero se rompe ao som de três batidas, para ele era como se o círculo encontrasse, afinal, a perfeita quadratura.
Os olhos a encara-lo avivaram a boca que se abriu numa oval perfeita, o nariz um triângulo escaleno realçando os cabelos que se cruzavam infinitamente, loiros, saídos de um sonho, ele afinal despertou.
Vim terminar o que comecei.